30/05/2014 10h29
- Atualizado em
30/05/2014 19h34
Jovem sem braços é aprovada em concurso e sonha ser professora
Carolina Tanaka Meneghel, de 29 anos, vive com a família em Piracicaba.
Jovem se formou em educação física e sonha em começar a dar aulas.
Sem o auxílio de ninguém, Carolina utiliza os pés para se alimentar (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Abrir a porta, comer, se arrumar, lavar louças, dirigir e até fazer uma
"selfie" podem parecer tarefas simples do dia a dia, mas já imaginou
fazer isso com os pés?
Para a educadora física Carolina Tanaka Meneghel, de 29 anos, que nasceu
sem os dois braços, tudo isso é rotina. E, apesar das dificuldades e da
necessidade constante de adaptação, a jovem foi aprovada em um concurso público da Prefeitura de Piracicaba (SP), cidade onde vive com a família, para o cargo de professora. Ela se formou em educação física em 2007 e sonha em começar a dar aulas.
Antes de escolher educação física, a jovem chegou a cursar faculdade de rádio
e TV. “Fui incentivada pelos amigos, que diziam que eu iria me dar bem
por ser bastante comunicativa, mas durante o curso percebi que não era
aquilo que queria para mim.”
Desde criança, Carolina sempre foi estimulada pelos pais a praticar exercícios físicos.
A jovem vai à academia diariamente e foi daí que decidiu cursar
educação física. “Meus pais me disseram para correr atrás dos meus
sonhos. Foi o que eu fiz."
No dia a dia, a deficiência não é empecilho para a realização das
tarefas. Com destreza e uma habilidade incomum nos pés, Carolina
consegue lavar louças, passar rímel nos cílios, destrancar portas, se
alimentar, cuidar da higiene pessoal e ainda dirigir um carro adaptado.
Mais recentemente, ela também aderiu à moda das "selfies" (fotografias
tiradas pelos próprios fotografados) e, com um celular nos pés, capturou
imagens suas.
Antes de iniciar a faculdade, Carolina conversou com o coordenador do
curso, que a incentivou a seguir adiante. “Durante a faculdade foi muito
gostoso. Os professores acabavam se adaptando às minhas necessidades. E
até os colegas de sala. Tivemos disciplinas voltadas para a inclusão de
deficientes físicos, visuais e auditivos e os alunos foram desafiados a jogar vôlei igual a mim, ou seja, com os pés.”
Depois de formada, Carolina nunca trabalhou na área. Chegou a fazer um curso técnico de gestão empresarial
de empresas para ingressar no mercado, mas nunca conseguiu realizar o
sonho de exercer a profissão de professora de educação física.
No entanto, a jovem viu no concurso da Prefeitura de Piracicaba
a chance de realizar o sonho. “Quando vi as inscrições abertas para o
concurso, não tive dúvidas. Quando vi que havia passado pelo sistema de
cotas foi uma alegria. A proximidade da realização de um sonho me deixou
ainda mais feliz. Será um novo desafio na minha vida. Quero poder ajudar as crianças
com a minha história de vida e de superação. Criança tem curiosidade e
quero ensinar tudo que sei e tudo que aprendi. Tenho certeza que a
resposta será positiva.”
Infância
Os pais de Carolina não sabiam que ela não tinha os braços, já que o
ultrassom durante a gravidez não detectou a deficiência. “O início foi
muito complicado, mas quem deu a própria resposta foi a Carol, que desde
pequena começou a usar os pés para tudo. O dia em que mais me
surpreendeu foi quando ela, ainda muito pequena, logo após a refeição,
juntou os pratos com os pés, os encaixou entre a cabeça e o pescoço e
levou para a pia. Aquele dia foi inesquecível. Mostrou a força e a
determinação da Carol", relatou a mãe, Dina de Paula Tanaka, de 55 anos.
Durante a infância, a jovem disse que não enfrentou problemas nem foi
vítima de bullying. Carolina contou que, na época, as outras crianças
queriam tentar fazer o que ela fazia com os pés, mas nem sempre
conseguiam. Aos dois anos de idade,
Carolina começou a praticar natação. Para ensiná-la, o professor chegou
a amarrar os próprios braços para sentir como conseguiria se virar na
água e, a partir da experiência, ele buscou uma técnica especial para
ensiná-la a nadar. Carolina dirige carro adaptado para ela desde 2007 (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Para Carolina, a adolescência foi o período mais difícil por causa do preconceito. "Eu saía na rua e as pessoas ficavam olhando com pena. Isso era muito difícil, mas nunca fiquei presa dentro de casa. Meus pais nunca me esconderam e sempre me incentivaram”, contou.
Carolina se casou com o vendedor Jonas Meneghel, de 30 anos, no dia 29
de novembro de 2011, após 13 anos de namoro. “Foi um dia muito especial
na minha vida. Conversamos muito sobre a minha deficiência, mas ele é
uma pessoa maravilhosa e sempre me apoiou. No dia do casamento, a
curiosidade das pessoas era como eu colocaria a aliança na mão dele. Pra
variar, usei os pés. Já a minha aliança eu guardo em uma corrente no pescoço.”
Para o futuro, a jovem pretende ser mãe. Carolina relatou que este deverá ser mais um desafio em sua vida. “Sei que será uma nova fase
diferente de tudo o que já vivi, porque criança precisa do contato com a
mãe. Mas tudo é superável e tenho certeza que vai dar tudo certo.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário